Quero convidar a sociedade potiguar, em especial a eclesiástica, a que possa estar participando desta página, desafiando com temáticas a serem abordadas, colaborando com conteúdos e oferecendo a agenda de assuntos relacionados à cidadania e a inclusão social para que todos possam ser abençoados com vivências, experiências e capacitações que venham acontecer neste estado afora.
Por Missão Integral queremos aqui entender alguns fatos: A Bíblia só reconhece a Missio Dei – A Missão de Deus, pois esta sempre foi integral. Mas dada a ênfase espiritual em detrimento a vida do corpo humano, a teologia latino americana se propõe ao uso do termo “integral” para que possamos perceber que a missão de Deus destina-se à alma e ao corpo. Assim, ao usarmos o termo Missão Integral, estaremos buscando dizer que são ações em favor do ser humano como um todo, mesmo reconhecendo as necessidades espirituais e as necessidades físicas, como sendo distintas, o ser humano sempre carece de ambas.
Nesta perspectiva a Missão Integral é missão para todas as faixas sociais, poios todos os humanos tem necessidades físicas e espirituais. Mas reconhecemos que o termo é mais usado para designar um olhar especial da teologia para os empobrecidos economicamente.
Reconstruindo sonhos
Há quase uma década atuando em projetos sociais através da ONG Diaconia, e também desenvolvendo neste período muitas ações de diferentes modos através da igreja, quero refletir nesta primeira edição, com um aspecto peculiar que envolve a visão da Missão Integral – o sonho.
A situação de exclusão vivida por milhões de brasileiros e brasileiras já acabou com muitos sonhos. Não pretendo trazer muitos dados, mas vou pautar a reflexão em um dado estatístico recente: 16 milhões de brasileiros vivem em pobreza extrema, e nem mesmo acessam o programa básico de transferência de renda, conhecido por Bolsa Família. Entre estes, 10 milhões estão nos nove estados do nordeste, e 408 mil estão em nosso estado do Rio Grande do Norte. Só neste dado já é possível ver o tamanho do desafio.
Ir ao encontro de pessoas nesta condição, não é tão fácil. É muito fácil nós nos frustrarmos com elas, classificando-as como preguiçosas, sem objetivos, e pessoas que não querem nada com nada.
Caso você já tenha classificado pessoas com algumas destas categorias, quero convidá-lo/a a refletir comigo. Consideremos que você é movido/a por sonhos. O sonho da formatura; o sonho do casamento; o sonho do 1º emprego; o sonho do primeiro filho; o sonho da estabilidade financeira; o sonho da aposentadoria estável, e tantos outros sonhos que lhe movem a dormir tarde e levantar cedo para dar conta dos diferentes desafios que o seu dia lhe propõe.
Devo ajudar você a perceber que o privilégio de sonhar não existe para uma grande maioria da sociedade. A escola pública oferece poucas chances de sucesso; o sistema público de saúde dá pouca garantia de vida saudável; o desemprego generalizado não garante alimentos para todos os dias. Se já não bastasse isso, ainda vem os inúmeros sonhos não alcançados, por se pautarem em programas que foram interrompidos, em promessas que demoraram demais para serem cumpridas, sem contar aquelas que nunca foram implementadas e as pessoas que já buscaram promoção pessoal explorando as fragilidades dos outros.
Desta forma, percebemos que para muitos brasileiros e brasileiras, o direito de sonhar a longo prazo não existe, pois o maior sonhos para alguns é viver amanhã. Nesta perspectiva não é possível fazer quase nada. Não é possível empreender nenhuma caminhada. É quase impossível mudar a própria realidade e história de vida.
Meu caro leitor, certamente você tem uma base a partir da qual sonhar. Mas como sonhar se não existe uma base de onde partir?
Envolver-se em Missão Integral exige acreditar em pessoas. Ajudá-las a voltar a sonhar. A perceber-se parte de um todo chamado sociedade, onde os direitos e deveres deveriam ser iguais. Isso pode ser difícil. Difícil, pois a pessoa não é obrigada a acreditar que a sua proposta é libertadora. É possível que propostas como a sua já tenham servido para enganá-la em um passado recente. Por isso, uma coisa fundamental para a reconstrução de sonhos, é estabelecer relacionamentos com a pessoa alvo da nossa ação. A pessoa excluída tem o direito de não acreditar em você. Normalmente ela já sofreu algum tido de desilusão e promessa falsa. Por isso, mesmo tendo a melhor proposta do mundo, permita que a pessoa a ser ajudada possa estabelecer empatia e confiança em você. Ajude-a a perceber que a sua proposta é real, é verdadeira e libertadora. Isso poderá levar um certo tempo. Mas seja capaz de esperar o tempo dela. Não desista fácil, pois muitos já fizeram isso com ela.
Lembre-se: pessoas empobrecidas tem vontade própria. Pode parecer ridícula a afirmação, mas é preciso lembrar que assim como seus filhos e sua família troca de emprego, busca satisfação no que faz, também pessoas empobrecidas tem seus gostos e vontades. A persistência normalmente é reduzidíssima. Ao menor sinal de dificuldade já há vontade de desistir. Pois esta rotina já lhe é presente na história de vida. Não desista, ajude-a a perceber que chegou um novo tempo para ela. Que você realmente se interessa na sua mudança de vida.
Assim poderíamos ainda ponderar sobre outros aspectos, mas finalizando, lembre-se de não fazer das “pessoas sem sonhos” a estatística dos seus próprios sonhos. Eu explico: por vezes somos tentados a medir o trabalho pessoal ou o trabalho social da igreja pelo número de pessoas atendidas em projetos sociais, e nos importamos mais com o número de pessoas do que com as pessoas. Não pense em muitas pessoas, mas pense em muitas mudanças na vida das pessoas que você está integrando à sociedade cidadã, produtiva e inclusive cristã. Lembre: Seus filhos recebem orientação por até mais de vinte anos. Mudar uma história de vida pode levar muitos anos, mas vale a pena.
Voltar a sonhar, é algo distante de muitos. Seja parte do sonho de alguém. Conquiste um sonho para a vida de alguém. A obra redentora de Cristo é completa, mas a reconstrução da vida social é uma conquista diária. Participe do sonho pela vida, integrando pessoas na vida da cidade, da família e da igreja.
Um sonho isolado pode ser apenas um sonho, mas um sonho sonhado em conjunto, pode ser uma conquista de um novo amanhã. Um sonho tornado realidade é uma mudança que aconteceu na vida de alguém. Sonhe, e permita pessoas sonharem.
* Pastor da Igreja Luterana
Assessor Político Pedagógico da Diaconia
E-mail: airtonschroeder@yahoo.com.br
E-mail: airtonschroeder@yahoo.com.br
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